Introdução
Há algum tempo atrás, me deparei com a excelente oportunidade de fazer um novo projeto, no qual poucos alunos são escolhidos para fazer, e logo fiquei interessado com o projeto de iniciação científica (um trabalho no qual alguns alunos devem pesquisar e escrever sobre um tema de sua escolha), auxiliado pelo colégio Móbile. Assim, O diferencial de um projeto como este é o fato de que a pesquisa fica bem mais interessante do que as pesquisas de temas dados, já que é pesquisado um fato de interesse do pesquisador, o que desperta curiosidade, para que assim seja possível ir além e fazer uma pesquisa bastante profunda e completa. Nesse projeto, poucos alunos são escolhidos para propor um tema, e no meu caso, propus o tema do genocídio armênio. Talvez por eu ter certa proximidade com o tema e disponibilidade em me dedicar a ele, acabei sendo escolhido para o projeto, e o resultado é este blog.
A minha família inteira, tanto materna como paterna, é de origem armênia, e sempre tive contato com as tradições e as culturas, então tive a idéia de basear o meu projeto no intrigante tema do genocídio armênio. Sempre ouvi falar em histórias sobre o genocídio, porém levado muito ao lado armênio, e nunca tinha me questionado sobre isso. Mas afinal, já que os turcos sempre negaram, será que ocorreu de fato o genocídio? E, se ocorreu mesmo, quais são as suas principais conseqüências?
Sempre achei curioso como que o povo armênio conseguiu manter as suas culturas e tradições mesmo sob um império os governando, e ainda sobreviver a um genocídio tão devastador. Isso me causou uma curiosidade maior quando comecei a entrar mais em contato com alguns familiares que me contaram histórias do genocídio e me contaram e/ou mostraram as tradições (boa parte ainda seguidas). O genocídio é ainda a causa de muitas ações ou fatos que interferem nos dias atuais, tanto dos armênios como de alguns outros povos, e também achei muito relevante explicar isso para pessoas que desconhecem o assunto, já que várias pessoas sequer sabem que ocorreu um genocídio na Armênia ou até sequer sabem que a Armênia existe. Até o começo da elaboração deste projeto, não sabia muito sobre o genocídio, e tive que buscar entender. Então, para iniciar a pesquisa, tive que ler alguns livros, e também ter contato com uma pessoa conhecedora do assunto. Assim, busquei a ajuda do meu tio que me ajudou muito na elaboração, Stephan Hrair Chahinian, tanto com depoimentos orais, como em indicações de fontes fundamentais de pesquisa.
Contudo, meu objetivo nesse blog é, primeiro explicar a todos o que é a Armênia, seu povo e suas culturas; segundo, explicar as causas que levaram ao genocídio; terceiro, explicar o genocídio em si, e por fim mostrar as conseqüências do genocídio e suas provas concretas.
OBS: Neste blog, há uma pesquisa séria e detalhada sobre o tema do genocídio armênio. Assim, por ser uma pesquisa, não há chances disso virar um fórum para debates, e muito menos serem aceitos comentários totalmente ofensivos a qualquer um dos povos citados nos textos (armênios, turcos, curdos, etc...). Comentários de boas pretenções e sugestões são sempre bem vindos, para que possamos aperfeiçoar cada vez mais o trabalho.
Os resultados de uma pesquisa tal como essa visam chegar a um ponto de vista, e não a uma verdade totalmente absoluta. Afinal, é disso que se baseia a História: graças a análises dos historiadores é que ela é composta. Mas o historiador pode se deparar com fatos não tão verídicos assim (o que não é muito difícil, graças a informações que são “manipuladas” por uma série de causas), e fazer uma análise sujeita a erros. Assim, a minha análise aqui pode estar sujeita aos mesmos riscos do historiador, pois o tema da minha pesquisa está incluído na História.
A minha família inteira, tanto materna como paterna, é de origem armênia, e sempre tive contato com as tradições e as culturas, então tive a idéia de basear o meu projeto no intrigante tema do genocídio armênio. Sempre ouvi falar em histórias sobre o genocídio, porém levado muito ao lado armênio, e nunca tinha me questionado sobre isso. Mas afinal, já que os turcos sempre negaram, será que ocorreu de fato o genocídio? E, se ocorreu mesmo, quais são as suas principais conseqüências?
Sempre achei curioso como que o povo armênio conseguiu manter as suas culturas e tradições mesmo sob um império os governando, e ainda sobreviver a um genocídio tão devastador. Isso me causou uma curiosidade maior quando comecei a entrar mais em contato com alguns familiares que me contaram histórias do genocídio e me contaram e/ou mostraram as tradições (boa parte ainda seguidas). O genocídio é ainda a causa de muitas ações ou fatos que interferem nos dias atuais, tanto dos armênios como de alguns outros povos, e também achei muito relevante explicar isso para pessoas que desconhecem o assunto, já que várias pessoas sequer sabem que ocorreu um genocídio na Armênia ou até sequer sabem que a Armênia existe. Até o começo da elaboração deste projeto, não sabia muito sobre o genocídio, e tive que buscar entender. Então, para iniciar a pesquisa, tive que ler alguns livros, e também ter contato com uma pessoa conhecedora do assunto. Assim, busquei a ajuda do meu tio que me ajudou muito na elaboração, Stephan Hrair Chahinian, tanto com depoimentos orais, como em indicações de fontes fundamentais de pesquisa.
Contudo, meu objetivo nesse blog é, primeiro explicar a todos o que é a Armênia, seu povo e suas culturas; segundo, explicar as causas que levaram ao genocídio; terceiro, explicar o genocídio em si, e por fim mostrar as conseqüências do genocídio e suas provas concretas.
OBS: Neste blog, há uma pesquisa séria e detalhada sobre o tema do genocídio armênio. Assim, por ser uma pesquisa, não há chances disso virar um fórum para debates, e muito menos serem aceitos comentários totalmente ofensivos a qualquer um dos povos citados nos textos (armênios, turcos, curdos, etc...). Comentários de boas pretenções e sugestões são sempre bem vindos, para que possamos aperfeiçoar cada vez mais o trabalho.
Os resultados de uma pesquisa tal como essa visam chegar a um ponto de vista, e não a uma verdade totalmente absoluta. Afinal, é disso que se baseia a História: graças a análises dos historiadores é que ela é composta. Mas o historiador pode se deparar com fatos não tão verídicos assim (o que não é muito difícil, graças a informações que são “manipuladas” por uma série de causas), e fazer uma análise sujeita a erros. Assim, a minha análise aqui pode estar sujeita aos mesmos riscos do historiador, pois o tema da minha pesquisa está incluído na História.
A Armênia e o povo armênio
A localização geográfica da Armênia é muito importante, pois precisamos conhecê-la para compreender a sua história e também algumas questões sobre o genocídio. O povo armênio sempre se situou no oeste da Ásia, entre o rio Eufrates e a região do Cáucaso, próximo aos lagos Van (hoje situado na Turquia) e Sevan (situado na atual Armênia), como se estivesse bem no meio do mundo se considerarmos um mapa mundi tradicional, seguido da esquerda para a direita os oceanos Pacífico, Atlântico, Índico, Pacífico. Pelo fato dessa região estar entre o mundo ocidental e o mundo oriental, o norte e o sul, a Armênia possui uma grande importância geográfica, já que não é possível passar para dois lados tão diferentes do mundo inteiro sem passar por esta região. Nos tempos antigos, era impossível passar do Ocidente para o Oriente e vice –versa sem passar pelo território armênio. É por esse motivo que a região na qual vivia o povo armênio foi anexado por vários impérios, dentre eles o Russo, o Persa, o Otomano, o Bizantino o Árabe e o Romano.
Desde o ano de 628 d.c a Armênia fora dividida entre a Armênia Ocidental, que dera lugar ao império Bizantino em 628 d.c, e posteriormente aos criadores do império Otomano, turcos seldjúcidas, em 1064; e a Armênia Oriental que foi parte do império Persa do ano de 1502 até o ano de 1828 e posteriormente parte do império Russo/ União Soviética até 1991. O último estado armênio de fato, sem intervenções, durou de 1080 – 1375, na região da Cilícia, região no extremo sudoeste da Armênia Ocidental com saída para o mar Mediterrâneo e logo ao lado de Alepo (cidade síria), na frente da ilha de Chipre. É nessa região que os armênios não cederam as invasões, e assim com ela restou o último reinado de todos, ou seja, as outras regiões armênias foram tomadas, e só restou a Cilícia com um governo armênio de fato. A partir do ano de 1375 até 1918 toda a Armênia Ocidental foi parte do império Otomano(com a queda da Cilícia), ou seja, durante todo esse tempo, os armênios não tiveram nenhuma organização estatal (é apenas na decadência do império Otomano que os armênios começam a se organizar em alguns grupos políticos e começar a pensar em um novo Estado armênio). As únicas justificativas para uma união entre esse povo eram então a língua, o alfabeto, a cultura em geral e a comum religião ortodoxa; por isso o papel fundamental da Igreja para a construção de uma identidade cultural durante todo esse tempo para este povo. Esta Igreja cristã ortodoxa se estabeleceu para o povo armênio em 301 d.c (substituindo o paganismo) e fez desse povo o primeiro totalmente cristão de toda a história, e esta também foi responsável pelo desenvolvimento de um alfabeto armênio. As igrejas são presentes em todo o território armênio, e várias construções de períodos muito antigos ainda se mantiveram na Armênia atual. Muitas dessas construções serviam como refúgios e locais de resistência, graças a suas arquiteturas, várias delas datadas do século X, e ainda existentes. Em algumas, podemos perceber janelas com frestas muito pequenas, o que facilitava a ação de arqueiros, e em muitas há partes mais altas que funcionavam como observatórios, tipo de arquitetura projetada para proteger de fato o povo armênio. A Igreja Ortodoxa Armênia, por fim, foi então a única instituição que preservara a identidade armênia, ganhando assim uma grande importância em relação a todo o povo armênio.
Fontes:
Sapsezian, Aharon; Historia da Armênia, drama e esperança de uma nação. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro RJ, 1988
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976
A. Bournoutian, George; Historia sucinta del pueblo armênio; editora Artes Gráficas Buschi S.A, Buenos Aires Bs As, 2006
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001
http://www.armeniapedia.org/index.php?title=Main_Page
Depoimentos orais de Stephan Hrair Chahinian, e acervo de fotos de Stephan Norair Chahinian.
Desde o ano de 628 d.c a Armênia fora dividida entre a Armênia Ocidental, que dera lugar ao império Bizantino em 628 d.c, e posteriormente aos criadores do império Otomano, turcos seldjúcidas, em 1064; e a Armênia Oriental que foi parte do império Persa do ano de 1502 até o ano de 1828 e posteriormente parte do império Russo/ União Soviética até 1991. O último estado armênio de fato, sem intervenções, durou de 1080 – 1375, na região da Cilícia, região no extremo sudoeste da Armênia Ocidental com saída para o mar Mediterrâneo e logo ao lado de Alepo (cidade síria), na frente da ilha de Chipre. É nessa região que os armênios não cederam as invasões, e assim com ela restou o último reinado de todos, ou seja, as outras regiões armênias foram tomadas, e só restou a Cilícia com um governo armênio de fato. A partir do ano de 1375 até 1918 toda a Armênia Ocidental foi parte do império Otomano(com a queda da Cilícia), ou seja, durante todo esse tempo, os armênios não tiveram nenhuma organização estatal (é apenas na decadência do império Otomano que os armênios começam a se organizar em alguns grupos políticos e começar a pensar em um novo Estado armênio). As únicas justificativas para uma união entre esse povo eram então a língua, o alfabeto, a cultura em geral e a comum religião ortodoxa; por isso o papel fundamental da Igreja para a construção de uma identidade cultural durante todo esse tempo para este povo. Esta Igreja cristã ortodoxa se estabeleceu para o povo armênio em 301 d.c (substituindo o paganismo) e fez desse povo o primeiro totalmente cristão de toda a história, e esta também foi responsável pelo desenvolvimento de um alfabeto armênio. As igrejas são presentes em todo o território armênio, e várias construções de períodos muito antigos ainda se mantiveram na Armênia atual. Muitas dessas construções serviam como refúgios e locais de resistência, graças a suas arquiteturas, várias delas datadas do século X, e ainda existentes. Em algumas, podemos perceber janelas com frestas muito pequenas, o que facilitava a ação de arqueiros, e em muitas há partes mais altas que funcionavam como observatórios, tipo de arquitetura projetada para proteger de fato o povo armênio. A Igreja Ortodoxa Armênia, por fim, foi então a única instituição que preservara a identidade armênia, ganhando assim uma grande importância em relação a todo o povo armênio.
Fontes:
Sapsezian, Aharon; Historia da Armênia, drama e esperança de uma nação. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro RJ, 1988
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976
A. Bournoutian, George; Historia sucinta del pueblo armênio; editora Artes Gráficas Buschi S.A, Buenos Aires Bs As, 2006
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001
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Depoimentos orais de Stephan Hrair Chahinian, e acervo de fotos de Stephan Norair Chahinian.
Os armênios no império Otomano
Durante o império Otomano, os armênios constituíam um povo diferente em relação a outros povos do império. Este império se constituía principalmente de povos vindos do centro da Ásia, na região da Mongólia, que acabaram migrando para a região do oeste da Ásia (Oriente Médio)/ Europa. Esse povo, de uma forma geral, turco, acabou ganhando alguns aspectos com as freqüentes invasões que fizeram, como por exemplo a sua religião, muçulmana. Durante o império Otomano, os armênios eram, então, um povo estranho, já que estavam no meio de várias regiões turcas do império (que iam de onde hoje é a Turquia, até onde hoje é o Azerbaijão; e que se estendiam até regiões como o Turcomenistão, Uzbequistão e Quirguistão, que não faziam parte do império, mas tinham identidade turca), pois tinham religião diferente, alfabeto diferente, língua diferente, costumes diferentes.
É apenas no final do século XVIII e em todo o século XIX que se estendeu na Armênia um movimento chamado, por muitos autores, “despertar cultural”. Dentro do império, os armênios camponeses (maior parte da população) sofriam com condições ruins dentro do império, pois constituíam a parte menos favorecida, ou seja, viviam uma vida em paz e conservavam uma certa identidade, porém não haviam investimentos do império nas áreas onde eram de minoria cultural, tal como na educação . Mas também havia uma grande parte da população armênia nas grandes cidades do império, tais como Constantinopla e as cidades de Sivas, Marash, Zeitun, Urfa, Van e Erzerum. Essa parte começou a receber educação (que não era dada nas áreas camponesas), e começou a virar uma certa elite cultural armênia, baseada em suas culturas e tradições. Logo, a população, que era minoria do império começou a se unir mais frente a símbolos e a uma cultura comum, diferente da união apenas graças a Igreja. Acontecia assim também na parte da Armênia Oriental, no lado russo, na antiga capital do Cáucaso, Tiflis.
É paralelamente ao despertar cultural que os turcos acabam se deparando com o problema de fragmentação do território em relação a parte ocidental do império. Isso ocorre em 1821 com a independência da Grécia, território de um povo semelhante ao armênio: com existência de mais de 2000 anos, mesma religião cristã ortodoxa, minorias no império, regiões estratégicas do império Otomano ( Grécia por ser a chave da entrada Otomana na Europa e no mundo ocidental, Armênia por ser o mesmo, mas no mundo oriental e chave de entrada para o império Russo). Talvez a independência da Grécia possa ter influenciado e motivado os armênios para a grande ênfase do despertar cultural, porém mais do que isso, essa foi a grande confirmação aos Turcos de que não iriam mais conseguir avançar ao Ocidente, então deveria reforçar os seus domínios no Oriente. Porém, havia um império em ampliação da extensão territorial, o império Russo, e os europeus temiam um avanço maior russo para o seu território (tal como na região da península Balcânica), então precisavam se aliar com os Otomanos para freá-los. A grande prova disso é a guerra de Criméia, na península da Criméia, no Mar Negro, entre 1853 – 1856, na qual Reino Unido, França e a atual Itália se aliaram com o império Turco – Otomano para combater com o império Russo.
Para os armênios, a situação começa a ficar um pouco mais complicada, pois os turcos começam a olhar as suas regiões com mais ambição, e com o intuito de ter total domínio para conseguir fazer um laço com as outras partes de mesma religião e mesma etnia, e assim estender e reforçar o império nas áreas orientais. Essas regiões, tal como onde hoje é o Azerbaijão, precisavam porém passar pela Armênia (tanto Oriental como Ocidental) para que conseguissem se unir, o que vai acarretar em muitos problemas que ainda serão descritos.
Fontes:
Sapsezian, Aharon; Historia da Armênia, drama e esperança de uma nação. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro RJ, 1988
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976
A. Bournoutian, George; Historia sucinta del pueblo armênio; editora Artes Gráficas Buschi S.A, Buenos Aires Bs As, 2006
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001
http://www.genocidioarmenio.org/nota.asp?id=5
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Depoimentos orais de Stephan Hrair Chahinian
É apenas no final do século XVIII e em todo o século XIX que se estendeu na Armênia um movimento chamado, por muitos autores, “despertar cultural”. Dentro do império, os armênios camponeses (maior parte da população) sofriam com condições ruins dentro do império, pois constituíam a parte menos favorecida, ou seja, viviam uma vida em paz e conservavam uma certa identidade, porém não haviam investimentos do império nas áreas onde eram de minoria cultural, tal como na educação . Mas também havia uma grande parte da população armênia nas grandes cidades do império, tais como Constantinopla e as cidades de Sivas, Marash, Zeitun, Urfa, Van e Erzerum. Essa parte começou a receber educação (que não era dada nas áreas camponesas), e começou a virar uma certa elite cultural armênia, baseada em suas culturas e tradições. Logo, a população, que era minoria do império começou a se unir mais frente a símbolos e a uma cultura comum, diferente da união apenas graças a Igreja. Acontecia assim também na parte da Armênia Oriental, no lado russo, na antiga capital do Cáucaso, Tiflis.
É paralelamente ao despertar cultural que os turcos acabam se deparando com o problema de fragmentação do território em relação a parte ocidental do império. Isso ocorre em 1821 com a independência da Grécia, território de um povo semelhante ao armênio: com existência de mais de 2000 anos, mesma religião cristã ortodoxa, minorias no império, regiões estratégicas do império Otomano ( Grécia por ser a chave da entrada Otomana na Europa e no mundo ocidental, Armênia por ser o mesmo, mas no mundo oriental e chave de entrada para o império Russo). Talvez a independência da Grécia possa ter influenciado e motivado os armênios para a grande ênfase do despertar cultural, porém mais do que isso, essa foi a grande confirmação aos Turcos de que não iriam mais conseguir avançar ao Ocidente, então deveria reforçar os seus domínios no Oriente. Porém, havia um império em ampliação da extensão territorial, o império Russo, e os europeus temiam um avanço maior russo para o seu território (tal como na região da península Balcânica), então precisavam se aliar com os Otomanos para freá-los. A grande prova disso é a guerra de Criméia, na península da Criméia, no Mar Negro, entre 1853 – 1856, na qual Reino Unido, França e a atual Itália se aliaram com o império Turco – Otomano para combater com o império Russo.
Para os armênios, a situação começa a ficar um pouco mais complicada, pois os turcos começam a olhar as suas regiões com mais ambição, e com o intuito de ter total domínio para conseguir fazer um laço com as outras partes de mesma religião e mesma etnia, e assim estender e reforçar o império nas áreas orientais. Essas regiões, tal como onde hoje é o Azerbaijão, precisavam porém passar pela Armênia (tanto Oriental como Ocidental) para que conseguissem se unir, o que vai acarretar em muitos problemas que ainda serão descritos.
Fontes:
Sapsezian, Aharon; Historia da Armênia, drama e esperança de uma nação. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro RJ, 1988
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976
A. Bournoutian, George; Historia sucinta del pueblo armênio; editora Artes Gráficas Buschi S.A, Buenos Aires Bs As, 2006
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001
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Depoimentos orais de Stephan Hrair Chahinian
Da guerra russo-turca aos massacres de 1894-1896
Nos anos da década de 1870, ocorreram fatos bastante relevantes em relação as questões do genocídio armênio. No ano de 1876, sobe ao poder no império Otomano o sultão Abdul Hamid. No mês de dezembro, Midhat Pasha (pertencente ao partido dos Jovens Turcos) propôs ao governo do sultão uma nova constituição junto com o parlamento, porém o sultão, afirmando a sua supremacia de poder acabou destituindo Midhat do cargo e ignorou a constituição (que visava a indivisibilidade do império, igualdade nos impostos, liberdade individual, de imprensa e educação, e um governo parlamentar). O reinado mal começara e em 1877 é declarada uma guerra entre o império e os russos (a chamada guerra russo-turca), que chega ao fim em 1878. Nessa guerra, a transição entre os dois impérios era feita sobre territórios armênios, o que acaba confirmando mais ainda a importância da Armênia, por estar no meio entre dois “mundos”, o ocidental e o oriental. Durante a guerra na qual os russos foram vitoriosos, os territórios armênios de Kars, Ardahan, Baiazet e Alashkert, todos na Armênia Ocidental (dos otomanos) foram parar nas mãos dos russos, além de vários territórios otomanos de outras partes do império . É a partir deste cenário que os armênios tinham muita esperança em ganhar direitos iguais aos muçulmanos, já que os armênios constituíam um povo cristão, o qual, talvez por ser diferente do comum, acabava pagando mais impostos e sofrendo perseguições religiosas. Com o final da guerra, os armênios ainda não desejavam se separar do império, porém queriam certos direitos autônomos, além de direitos políticos e segurança para garantir uma vida melhor.
Com o fim da guerra russo – turca, foi feito o Congresso de Berlim, no qual várias potências européias se reuniram e acabaram decidindo que, com a evacuação das tropas russas, estes teriam direito apenas a algumas regiões armênias (Kars e Ardahan), e as mais importantes (Baiazet e Alashkert) teriam que ser devolvidas a Turquia. Logo, todas as esperanças dos armênios foram quebradas, e o poder de Abdul Hamid, anteriormente enfraquecido com a guerra, começa a ganhar forma de novo. É assim que as coisas começam a se complicar para o lado dos armênios, pois com a guerra, os últimos territórios ocidentais do império Otomano se separaram (toda a região balcã da ex Iugoslávia, que ficara independente graças ao pan eslavismo russo), e a tendência do império era então a de reforçar o seu domínio das terras originais e ter a chance de se estender apenas para o lado Oriental, o que se chamará de pan-turquismo, ou panturanismo. Além disso, os armênios acabaram sobrando como único povo cristão do império (com exceção dos curdos, mas que eram “aliados”dos turcos muçulmanos), o que também ajudava a destaca-los e sofrer ainda mais más condições.
No império, os armênios foram perseguidos e muitos massacres eram realizados a eles pelos curdos, pois os turcos se aproveitavam de que curdos constituíam um povo sem terra, e estes, tecnicamente, poderiam “se apoderar” das terras armênias, desde que fizessem matanças, “limpando” assim o território a ser ocupado. Foi assim o domínio turco sobre os curdos até o final da primeira guerra mundial. Com esses ataques, os armênios acabaram organizando uma resistência, e assim acabaram surgindo partidos revolucionários contra o domínio dos otomanos. Em relação a este fato, vale lembrar que antes disso, os armênios nunca se viram na obrigação de se defender e assim organizar algo para a defesa armada, mas agora estavam sendo massacrados, então precisavam se defender. Esses novos tempos para os armênios são marcados por uma frase que reflete bem a sua situação na época. Essa frase é feita por Khrimian Hairig, papa ortodoxo armênio e presidente da delegação armênia que tinha regressado do Congresso de Berlim: “ Fui à Europa para trazer-vos liberdade, não obstante, o que encontrei ali? Em Berlim havia uma grande panela cheia de herissé (comida típica armênia); os representantes das diferentes nações vinham com suas colheres de ferro, se serviam do herissé e o comiam. E eu, mostrando nossa solicitação, roguei que também enchessem meu prato com herissé. Os encarregados da panela me perguntaram onde estava minha colher... Minha colher era de papel e ficou dentro do herissé; assim, pois, regressei com as mãos vazias! ... As colheres! Pensemos nas colheres!”. Na verdade, essa frase é um chamado dos armênios para começarem a lutar e defender o reconhecimento de seus direitos com uma luta armada, que possuiria um caráter mais focado e mais forte. O primeiro partido revolucionário armênio a se formar é o Partido Armenagan, criado na armênia otomana em 1885. Assim, também foi criado, por um grupo de intelectuais armênios em Genebra o partido Hentchagian (pelo nome do jornal em que faziam parte, Hentchag, que significa o “soar do sino”) em 1887, seguido pela criação do partido Tashnag, em 1890 na armênia russa. Este último visava a criação de uma Federação Revolucionária Armênia. Os partidos tinham visão ou social ou liberal, mas todos visavam o futuro do povo armênio e uma organização para a defesa aos massacres.
Durante todo esse tempo, o império Otomano estava perdendo muita força, e os otomanos precisavam mostrar a sua dominação contra os armênios, que estavam começando a se organizar. É assim que começa a se intensificar, com o sultão Abdul Hamid, em 1894, uma política de fanatismo que exaltava multidões curdas e maometanas contra os armênios, espalhando a eles rumores de complôs armênios separatistas contra o império. Logo, pode-se considerar o início de tempos muito ruins para os armênios, pois é em 1894 que se iniciam os massacres, em Sassoun (a oeste do lago Van), onde os armênios da região se negaram a pagar os impostos abusivos aos curdos, então esses últimos acabaram recorrendo ao governo turco, que os ajudou com tropas comandadas por Zeki Pashá. Seguindo esse massacre, houveram massacres em várias partes armênias do império, tais como Erzerum, Baiburd, Arabkir, Erzinkan, Bitlis, Tigranankert, Kharbed, Sivas, Merdin, Marash e Van; vários destes feitos por curdos, que estavam excitados com as idéias de domínio turcas, nas quais se incitavam a brigar entre si as raças que eram minoria e poderiam fazer parte de algum movimento separatista. Foram mortas entre 200.000 e 300.000 pessoas nesses massacres, que duraram de 1894 a 1896.
Fontes:
Sapsezian, Aharon; Historia da Armênia, drama e esperança de uma nação. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro RJ, 1988
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976
A. Bournoutian, George; Historia sucinta del pueblo armênio; editora Artes Gráficas Buschi S.A, Buenos Aires Bs As, 2006
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001
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http://www.genocidioarmenio.org/
Depoimentos orais de Stephan Hrair Chahinian
Com o fim da guerra russo – turca, foi feito o Congresso de Berlim, no qual várias potências européias se reuniram e acabaram decidindo que, com a evacuação das tropas russas, estes teriam direito apenas a algumas regiões armênias (Kars e Ardahan), e as mais importantes (Baiazet e Alashkert) teriam que ser devolvidas a Turquia. Logo, todas as esperanças dos armênios foram quebradas, e o poder de Abdul Hamid, anteriormente enfraquecido com a guerra, começa a ganhar forma de novo. É assim que as coisas começam a se complicar para o lado dos armênios, pois com a guerra, os últimos territórios ocidentais do império Otomano se separaram (toda a região balcã da ex Iugoslávia, que ficara independente graças ao pan eslavismo russo), e a tendência do império era então a de reforçar o seu domínio das terras originais e ter a chance de se estender apenas para o lado Oriental, o que se chamará de pan-turquismo, ou panturanismo. Além disso, os armênios acabaram sobrando como único povo cristão do império (com exceção dos curdos, mas que eram “aliados”dos turcos muçulmanos), o que também ajudava a destaca-los e sofrer ainda mais más condições.
No império, os armênios foram perseguidos e muitos massacres eram realizados a eles pelos curdos, pois os turcos se aproveitavam de que curdos constituíam um povo sem terra, e estes, tecnicamente, poderiam “se apoderar” das terras armênias, desde que fizessem matanças, “limpando” assim o território a ser ocupado. Foi assim o domínio turco sobre os curdos até o final da primeira guerra mundial. Com esses ataques, os armênios acabaram organizando uma resistência, e assim acabaram surgindo partidos revolucionários contra o domínio dos otomanos. Em relação a este fato, vale lembrar que antes disso, os armênios nunca se viram na obrigação de se defender e assim organizar algo para a defesa armada, mas agora estavam sendo massacrados, então precisavam se defender. Esses novos tempos para os armênios são marcados por uma frase que reflete bem a sua situação na época. Essa frase é feita por Khrimian Hairig, papa ortodoxo armênio e presidente da delegação armênia que tinha regressado do Congresso de Berlim: “ Fui à Europa para trazer-vos liberdade, não obstante, o que encontrei ali? Em Berlim havia uma grande panela cheia de herissé (comida típica armênia); os representantes das diferentes nações vinham com suas colheres de ferro, se serviam do herissé e o comiam. E eu, mostrando nossa solicitação, roguei que também enchessem meu prato com herissé. Os encarregados da panela me perguntaram onde estava minha colher... Minha colher era de papel e ficou dentro do herissé; assim, pois, regressei com as mãos vazias! ... As colheres! Pensemos nas colheres!”. Na verdade, essa frase é um chamado dos armênios para começarem a lutar e defender o reconhecimento de seus direitos com uma luta armada, que possuiria um caráter mais focado e mais forte. O primeiro partido revolucionário armênio a se formar é o Partido Armenagan, criado na armênia otomana em 1885. Assim, também foi criado, por um grupo de intelectuais armênios em Genebra o partido Hentchagian (pelo nome do jornal em que faziam parte, Hentchag, que significa o “soar do sino”) em 1887, seguido pela criação do partido Tashnag, em 1890 na armênia russa. Este último visava a criação de uma Federação Revolucionária Armênia. Os partidos tinham visão ou social ou liberal, mas todos visavam o futuro do povo armênio e uma organização para a defesa aos massacres.
Durante todo esse tempo, o império Otomano estava perdendo muita força, e os otomanos precisavam mostrar a sua dominação contra os armênios, que estavam começando a se organizar. É assim que começa a se intensificar, com o sultão Abdul Hamid, em 1894, uma política de fanatismo que exaltava multidões curdas e maometanas contra os armênios, espalhando a eles rumores de complôs armênios separatistas contra o império. Logo, pode-se considerar o início de tempos muito ruins para os armênios, pois é em 1894 que se iniciam os massacres, em Sassoun (a oeste do lago Van), onde os armênios da região se negaram a pagar os impostos abusivos aos curdos, então esses últimos acabaram recorrendo ao governo turco, que os ajudou com tropas comandadas por Zeki Pashá. Seguindo esse massacre, houveram massacres em várias partes armênias do império, tais como Erzerum, Baiburd, Arabkir, Erzinkan, Bitlis, Tigranankert, Kharbed, Sivas, Merdin, Marash e Van; vários destes feitos por curdos, que estavam excitados com as idéias de domínio turcas, nas quais se incitavam a brigar entre si as raças que eram minoria e poderiam fazer parte de algum movimento separatista. Foram mortas entre 200.000 e 300.000 pessoas nesses massacres, que duraram de 1894 a 1896.
Fontes:
Sapsezian, Aharon; Historia da Armênia, drama e esperança de uma nação. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro RJ, 1988
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976
A. Bournoutian, George; Historia sucinta del pueblo armênio; editora Artes Gráficas Buschi S.A, Buenos Aires Bs As, 2006
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001
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Depoimentos orais de Stephan Hrair Chahinian
A ascensão dos jovens turcos ao poder
Nos tempos de Abdul Hamid no poder, os armênios acabaram sofrendo muito com as más condições e os morticínios, o que gerou uma grande descontentação em relação ao império. Nos tempos entre 1897 a 1908, os grupos armênios armados acabaram travando várias batalhas contra guerrilhas curdas e tropas turcas. É apenas em 1908 que os armênios começam a acreditar em tempos melhores a vir, pois é nesse período que começa a ganhar poder uma oposição ao sultão, chamada de Jovens Turcos, que era contra o governo do sultão por este ter um caráter meio ultrapassado pelo fato de que o império ainda não tinha uma constituição e vivia sob o mesmo sistema político de sultanato, ou seja, uma espécie de monarquia da qual o sultão detém quase que a totalidade do poder. Com a oposição crescendo, o governo do sultão virava cada vez mais um governo fraco e ineficiente, incapaz de conseguir fortalecer novamente o império.
Dentro do partido dos Jovens Turcos, haviam os otomanistas, que visavam uma junção dos diferentes grupos existentes no império, e os nacionalistas, que acusavam o sultão cada vez mais de ser um governante fraco e principalmente pelas intervenções das potências européias no império, como as de 1895, que, tendo em vista os massacres desta época, propunham um plano que visava dar melhores condições aos armênios com relação aos impostos e direitos iguais . Por propôr aos povos que eram minoria no império uma nova constituição por melhores condições, os armênios e seus partidos (Tashnagtsutiun e Hentchakan) acabaram ajudando os Jovens Turcos a tomar o poder pois tinham a certeza de que com eles haveria igualdade no império, o que levaria ao fim das batalhas e massacres. Podemos concluir que, quando os armênios estavam incentivando a ascensão revolucionária dos jovens turcos ao poder, estes apenas propunham o caráter otomanista da revolução, porém ainda existindo um caráter nacionalista implícito, escondido por trás das propostas de igualdade e melhores condições. Um dos nacionalistas do partido, Ahmed Riza, comprova isso com uma frase que descrevia seu partido: “liberal, sim; porém, antes, turco”.
O partido dos Jovens Turcos é o mesmo que lutou pela nova constituição no início do reinado de Abdul Hamid (1876) com seu principal líder, Midhat Pasha. Naquele tempo o partido ainda não tinha ganhado uma grande força, porém o fato de o líder desse partido ter lutado por uma nova constituição já bastava para que os Jovens Turcos ganhassem uma admiração não só dos armênios, mas de grande parte das minorias do império. É então que, com bastante apoio, não só dos armênios, mas também de militares das forças armadas do império otomano, os Jovens Turcos acabam organizando o Comitê de União e Progresso, ou Ittihad ve Terakki. Desse comitê, os Jovens Turcos conseguiram instaurar um governo de monarquia constitucional, porém ainda com o sultão (agora enfraquecido) no poder, para que este assinasse a constituição de 1876 que estava enterrada. Isso se deu graças a invasão de Constantinopla pelas forças do general Paxá Mahmud Sherkt, ganhando força os membros do Comitê de União e Progresso. As forças armadas também tiveram grande função após essa tomada de poder, pois conseguiram abafar também uma reação hamidiana, da qual o sultão tentou dar um golpe e tomar de volta o poder, mas acabou sendo destituído e exilado.
Com o Ittihad vitorioso e a constituição estabelecida, os armênios estavam esperando por uma condição bem melhor no império, pois agora vigoraria, por teoria, o um governo mais justo com os Jovens Turcos. Porém não demorou muito e, em abril de 1909 o caráter nacionalista da revolução acabou mostrando as suas caras com as matanças em Adana, na Cilícia, região com muita concentração de armênios, que resultou na morte de 30 mil pessoas. Além disso, o governo estabeleceu a língua turca como o único idioma oficial e até deu incentivo aos curdos para que, novamente, ocupassem as terras armênias. Podemos concluir então que ao subir no poder, o Comitê de União e Progresso acabou tendo como principal objetivo uma união do império para que não houvesse separação de territórios, já que o império Otomano estava em decadência e não iria conseguir mais se expandir (do lado europeu, a Grécia já tinha conquistado sua independência, e do outro lado, os russos estavam com um império forte e consolidado, além da Pérsia). Assim, acaba ganhando força a idéia de turquificação dos povos, ou seja, unir todos os povos do império como se fosse apenas um, para que assim não haja revoltas e haja um império homogêneo, forte e unido. Essa idéia acaba sendo sinônimo do panturanismo, ou panturquismo, que visava a união dos povos do império, seja por fronteiras territoriais, seja por identidade, tanto cultural, tanto religiosa. Unindo essa idéia com as chances de expansão do império Otomano, vemos que a única opção dos turcos é de anexar os territórios dos povos com mesma origem que eles, que estava na região central da Ásia (os cazaques, tártaros, uzbeques, turcomenos) e no Cáucaso (os azerís, onde estavam na região do atual Azerbaijão). Porém, havia uma barreira no meio dessa possível união: a Armênia, cujo povo possui costumes, cultura e religião totalmente diferentes dos povos turcos. Os Jovens Turcos possuíam um caráter muito nacionalista e fanático, e acreditavam que o panturanismo era a única chance que os turcos tinham de ainda se estabelecerem, antes que os povos do império começassem a querer independência, que nem o que ocorreu com a Grécia.
Em 1912-1913, a idéia do panturanismo adquiriu ainda mais força, devido a derrota dos turcos na guerra dos bálcãs. É com este fato que os turcos perderam ainda mais territórios no lado oeste do império, na entrada da Europa, e assim, a idéia de expansão e estabelecimento no lado asiático era ainda maior. Em 1913, os nacionalistas do movimento dos jovens turcos, tendo muito presente esta idéia de panturanismo se vêem na “obrigação” de pegar o poder, e com um golpe de estado baseado na força militar, sobem ao poder Djemal Pasha, ministro da marinha; Enver Pasha, ministro da guerra; e Talaat Pasha, ministro do interior (o chamado triunvirato turco), as três figuras mais nacionalistas do movimento. Com este governo, os armênios acabam tendo uma vida no império cada vez menos suportável à medida que ia crescendo as idéias panturanistas, pois essas idéias favoreciam o convencimento dos massacres, e de que povo armênio, por não ser turco, não pr ecisava ter os mesmos direitos que o povo que controlava o império. Vendo isso, os russos e as potências européias tomaram medidas para a questão armênia, e em fevereiro de 1914, na véspera da primeira guerra mundial, as potências mandaram inspetores, embaixadores e cônsules para várias cidades da Armênia Ocidental. A presença desses estrangeiros foi fundamental para a constatação dos massacres armênios ocorridos durante a guerra, pois a maioria dos documentos que se tem hoje são desses embaixadores e inspetores.
Fontes:
Sapsezian, Aharon; Historia da Armênia, drama e esperança de uma nação. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro RJ, 1988
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976
A. Bournoutian, George; Historia sucinta del pueblo armênio; editora Artes Gráficas Buschi S.A, Buenos Aires Bs As, 2006
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001 (apenas neste texto, foram retiradas também as fotos)
http://www.armeniapedia.org/index.php?title=Main_Page
http://www.geocities.com/ibnkhaldoun_2000/jovensturcos.htm
http://www.genocide-museum.am/
Depoimentos orais de Stephan Hrair Chahinian
Dentro do partido dos Jovens Turcos, haviam os otomanistas, que visavam uma junção dos diferentes grupos existentes no império, e os nacionalistas, que acusavam o sultão cada vez mais de ser um governante fraco e principalmente pelas intervenções das potências européias no império, como as de 1895, que, tendo em vista os massacres desta época, propunham um plano que visava dar melhores condições aos armênios com relação aos impostos e direitos iguais . Por propôr aos povos que eram minoria no império uma nova constituição por melhores condições, os armênios e seus partidos (Tashnagtsutiun e Hentchakan) acabaram ajudando os Jovens Turcos a tomar o poder pois tinham a certeza de que com eles haveria igualdade no império, o que levaria ao fim das batalhas e massacres. Podemos concluir que, quando os armênios estavam incentivando a ascensão revolucionária dos jovens turcos ao poder, estes apenas propunham o caráter otomanista da revolução, porém ainda existindo um caráter nacionalista implícito, escondido por trás das propostas de igualdade e melhores condições. Um dos nacionalistas do partido, Ahmed Riza, comprova isso com uma frase que descrevia seu partido: “liberal, sim; porém, antes, turco”.
O partido dos Jovens Turcos é o mesmo que lutou pela nova constituição no início do reinado de Abdul Hamid (1876) com seu principal líder, Midhat Pasha. Naquele tempo o partido ainda não tinha ganhado uma grande força, porém o fato de o líder desse partido ter lutado por uma nova constituição já bastava para que os Jovens Turcos ganhassem uma admiração não só dos armênios, mas de grande parte das minorias do império. É então que, com bastante apoio, não só dos armênios, mas também de militares das forças armadas do império otomano, os Jovens Turcos acabam organizando o Comitê de União e Progresso, ou Ittihad ve Terakki. Desse comitê, os Jovens Turcos conseguiram instaurar um governo de monarquia constitucional, porém ainda com o sultão (agora enfraquecido) no poder, para que este assinasse a constituição de 1876 que estava enterrada. Isso se deu graças a invasão de Constantinopla pelas forças do general Paxá Mahmud Sherkt, ganhando força os membros do Comitê de União e Progresso. As forças armadas também tiveram grande função após essa tomada de poder, pois conseguiram abafar também uma reação hamidiana, da qual o sultão tentou dar um golpe e tomar de volta o poder, mas acabou sendo destituído e exilado.
Com o Ittihad vitorioso e a constituição estabelecida, os armênios estavam esperando por uma condição bem melhor no império, pois agora vigoraria, por teoria, o um governo mais justo com os Jovens Turcos. Porém não demorou muito e, em abril de 1909 o caráter nacionalista da revolução acabou mostrando as suas caras com as matanças em Adana, na Cilícia, região com muita concentração de armênios, que resultou na morte de 30 mil pessoas. Além disso, o governo estabeleceu a língua turca como o único idioma oficial e até deu incentivo aos curdos para que, novamente, ocupassem as terras armênias. Podemos concluir então que ao subir no poder, o Comitê de União e Progresso acabou tendo como principal objetivo uma união do império para que não houvesse separação de territórios, já que o império Otomano estava em decadência e não iria conseguir mais se expandir (do lado europeu, a Grécia já tinha conquistado sua independência, e do outro lado, os russos estavam com um império forte e consolidado, além da Pérsia). Assim, acaba ganhando força a idéia de turquificação dos povos, ou seja, unir todos os povos do império como se fosse apenas um, para que assim não haja revoltas e haja um império homogêneo, forte e unido. Essa idéia acaba sendo sinônimo do panturanismo, ou panturquismo, que visava a união dos povos do império, seja por fronteiras territoriais, seja por identidade, tanto cultural, tanto religiosa. Unindo essa idéia com as chances de expansão do império Otomano, vemos que a única opção dos turcos é de anexar os territórios dos povos com mesma origem que eles, que estava na região central da Ásia (os cazaques, tártaros, uzbeques, turcomenos) e no Cáucaso (os azerís, onde estavam na região do atual Azerbaijão). Porém, havia uma barreira no meio dessa possível união: a Armênia, cujo povo possui costumes, cultura e religião totalmente diferentes dos povos turcos. Os Jovens Turcos possuíam um caráter muito nacionalista e fanático, e acreditavam que o panturanismo era a única chance que os turcos tinham de ainda se estabelecerem, antes que os povos do império começassem a querer independência, que nem o que ocorreu com a Grécia.
Em 1912-1913, a idéia do panturanismo adquiriu ainda mais força, devido a derrota dos turcos na guerra dos bálcãs. É com este fato que os turcos perderam ainda mais territórios no lado oeste do império, na entrada da Europa, e assim, a idéia de expansão e estabelecimento no lado asiático era ainda maior. Em 1913, os nacionalistas do movimento dos jovens turcos, tendo muito presente esta idéia de panturanismo se vêem na “obrigação” de pegar o poder, e com um golpe de estado baseado na força militar, sobem ao poder Djemal Pasha, ministro da marinha; Enver Pasha, ministro da guerra; e Talaat Pasha, ministro do interior (o chamado triunvirato turco), as três figuras mais nacionalistas do movimento. Com este governo, os armênios acabam tendo uma vida no império cada vez menos suportável à medida que ia crescendo as idéias panturanistas, pois essas idéias favoreciam o convencimento dos massacres, e de que povo armênio, por não ser turco, não pr ecisava ter os mesmos direitos que o povo que controlava o império. Vendo isso, os russos e as potências européias tomaram medidas para a questão armênia, e em fevereiro de 1914, na véspera da primeira guerra mundial, as potências mandaram inspetores, embaixadores e cônsules para várias cidades da Armênia Ocidental. A presença desses estrangeiros foi fundamental para a constatação dos massacres armênios ocorridos durante a guerra, pois a maioria dos documentos que se tem hoje são desses embaixadores e inspetores.
Fontes:
Sapsezian, Aharon; Historia da Armênia, drama e esperança de uma nação. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro RJ, 1988
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976
A. Bournoutian, George; Historia sucinta del pueblo armênio; editora Artes Gráficas Buschi S.A, Buenos Aires Bs As, 2006
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001 (apenas neste texto, foram retiradas também as fotos)
http://www.armeniapedia.org/index.php?title=Main_Page
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Depoimentos orais de Stephan Hrair Chahinian
A Grande Guerra - o grande genocídio
Durante os anos que antecederam a primeira guerra mundial, o império otomano estava sob o governo dos jovens turcos, que desenvolveu durante o tempo que esteve no poder um caráter cada vez mais nacionalista. Eles atenuavam a idéia panturanista de garantir as suas conquistas no Oriente, já que não conseguiram avançar na Europa, e unificar os territórios também de origem turca, tal como o Azerbaijão e o Turcomenistão, além de outros países do centro asiático. Porém, havia uma complicação para que isto ocorresse: no meio da união entre esses territórios e o império, havia um território no qual vivia um povo com língua diferente, religião diferente e costumes diferentes, os armênios. Com medo de novos massacres contra os armênios, várias potências mundiais mandaram inspetores que iriam verificar o que estava ocorrendo com esse povo nos vilarejos, graças a um acordo firmado com o império em 8 de fevereiro de 1914. Assim, os armênios se sentiram mais seguros dentro do império, até que em 31 de outubro do mesmo ano, o império ingressa na guerra que estourara na Europa, e expulsa esses inspetores gerais. Os embaixadores e alguns inspetores que ficaram, durante certo tempo depois da entrada na guerra, no império vão ser as principais testemunhas de importância global do genocídio armênio.
Com o início da guerra, os otomanos tomaram o lado das potências centrais, juntamente com o império Austro – húngaro e a Alemanha, lutando contra o bloco dos aliados, constituído por Inglaterra, França, Rússia, Japão e EUA. Os otomanos visavam com isso a defesa de uma parte de seu território, o estreito de Bósforo, o qual a Rússia tinha interesses por ser uma região importante para a saída para o Mediterrâneo. Porém era também uma incrível oportunidade de colocar em prática os planos panturanistas, já que a população turca ia se unir com a guerra, e sem os inspetores era possível tirar os armênios de suas terras e unir os territórios que estavam no lado leste da Armênia. Isso talvez podia ter sido uma das motivações da entrada dos otomanos na guerra, pois o modo que ocorreu o genocídio caracteriza como se este fosse devidamente planejado, como veremos a seguir.
Os massacres contra os armênios já ocorriam, como vimos no caso dos anos de 1894-1896, e também na Cilícia, no ano de 1909. Porém no dia 24 de abril de 1915, há um fato que indica o início do período do genocídio armênio. O império estava em guerra, os inspetores já tinham saído do território, foram presos e executados cerca de 600 intelectuais armênios que viviam em Istambul sem motivo aparente algum. Após isso, muitos armênios em suas cidades foram sumariamente assassinados ou forçadamente deportados sem motivo algum, o que totalizou quase 600 mil pessoas mortas. As frentes de batalha entre o império russo e o otomano na primeira guerra mundial eram regiões armênias, e os turcos acusavam os armênios de ajudarem os russos. Assim, com o pretexto de ajudar a população civil e atrapalhar essa ofensiva, os turcos defendem hoje em dia que organizavam caravanas e tiravam a população armênia para outras regiões do império, principalmente para a região de Alepo no norte da Síria. Essas deportações ocorreram de fato, graças a leis que as formalizaram, porém muitos dos armênios nessas caravanas morriam pelo caminho devido às más condições em que eram impostos, pois tinham que atravessar uma região de deserto, e muitas vezes os soldados não forneciam água nem comida, os obrigando a uma jornada de caminhada muito exaustiva. Porém, os que chegavam na Síria eram instalados em campos como prisioneiros e recebiam péssimas condições de abrigo e alimentação, ou então eram mortos na própria cidade. Dentre os mortos pelo caminho e os que chegavam nas cidades, foram totalizados 500 mil pessoas mortas. Assim, temos um massacre generalizado que pareceu ser planejado, o que reforça ainda um aproveitamento da entrada na guerra pelos turcos para reforçar as idéias panturanistas.
A idéia do genocídio ser baseado graças aos ideais panturanistas, ou panturquistas, toma mais força com a saída da Rússia na guerra em novembro de 1917 devido ao fato de ocorrer uma revolução nesse país, que se opunha aos ideais capitalistas que giravam em torno da guerra. Com a retirada das tropas russas no Cáucaso, a Armênia Oriental ficou então à mercê das tropas turcas. Assim, os turcos tomaram as regiões de Kars, Igdir, Kaghzivan e Ardahan visando criar uma conexão com o Azerbaijão, passando por toda a Armênia Oriental. Esses avanços territoriais tiveram um resultado de 400 mil mortos armênios, considerados pelos turcos como “crimes normais em uma guerra”, contra o exército armênio que estava organizado pelos partidos. Os turcos dizem que o número de mortos foi bem menor, porém como explicar que na região os armênios foram quase que dizimados, e hoje não há muitos dessa etnia vivendo naqueles territórios? Os rumos dos armênios começaram a mudar, pois os turcos estavam começando a perder o poder com as regiões árabes do império, que, ajudados pelos ingleses e franceses estavam se rebelando contra os otomanos, fazendo com que esses deslocassem uma boa parte do exército para regiões como Síria, Iraque e Líbano. Assim, em 28 de maio de 1918; organizados pelo partido Tashnag (criado em 1890 no lado oriental) conseguiram travar os turcos e impedir o avanço para outras áreas armênias graças a uma gloriosa vitória na batalha de Sartarabad colocando um fim nos interesses panturanistas e constituindo assim a primeira República da Armênia. Uma das maiores agonias dos armênios de hoje em dia é o fato de que, mesmo com a vitória gloriosa de Sartarabad, o território do monte Ararat ficou nas mãos dos turcos, e é possível o ver em algumas cidades da Armênia atual. Esse monte é um símbolo para todos os armênios, pois é em sua parte mais alta que, segundo a Bíblia, a arca de Noé pousou, e este ficava em território armênio. Como o povo é cristão ortodoxo, o que é escrito na Bíblia acaba sendo sagrado e ter uma das partes desse livro ocorrida em um local armênio acaba sendo um orgulho.
Ocorre que a primeira República Democrática da Armênia era muito fragilizada em termos militares e econômicos, e estava entre a Rússia e a Turquia. Com a guerra, o império Otomano se fragmentou perdendo seus domínios de região árabe, ficando assim o território da Turquia atual. Fragilizado e não se contentando com a perda de territórios com a guerra, se iniciou em 1919 um movimento muito nacionalista chefiado por Mustafá Kemal Pasha, conhecido como “pai dos turcos” por, posteriormente ter criado a República da Turquia. Ocorre que, a Armênia teria seu território e sua república garantidas com o tratado de Sèvres, que obrigava os turcos a reconhecer a perda de territórios. É então que começa a ascender no poder por meio de uma Assembléia no parlamento ("Grande Assembléia Nacional", em abril de 1920) o líder nacionalista Kemal, que não se contenta com a perda de territórios, e declarou guerra contra a Armênia, Grécia e França, o último visando os territórios árabes perdidos na Grande Guerra. Contra a Armênia, os turcos se viam vitoriosos e conseguiram firmar seu domínio em alguns territórios da Armênia Ocidental com o Tratado de Alexandropol, que anulava o de Sèvres.
Com o início da guerra, os otomanos tomaram o lado das potências centrais, juntamente com o império Austro – húngaro e a Alemanha, lutando contra o bloco dos aliados, constituído por Inglaterra, França, Rússia, Japão e EUA. Os otomanos visavam com isso a defesa de uma parte de seu território, o estreito de Bósforo, o qual a Rússia tinha interesses por ser uma região importante para a saída para o Mediterrâneo. Porém era também uma incrível oportunidade de colocar em prática os planos panturanistas, já que a população turca ia se unir com a guerra, e sem os inspetores era possível tirar os armênios de suas terras e unir os territórios que estavam no lado leste da Armênia. Isso talvez podia ter sido uma das motivações da entrada dos otomanos na guerra, pois o modo que ocorreu o genocídio caracteriza como se este fosse devidamente planejado, como veremos a seguir.
Os massacres contra os armênios já ocorriam, como vimos no caso dos anos de 1894-1896, e também na Cilícia, no ano de 1909. Porém no dia 24 de abril de 1915, há um fato que indica o início do período do genocídio armênio. O império estava em guerra, os inspetores já tinham saído do território, foram presos e executados cerca de 600 intelectuais armênios que viviam em Istambul sem motivo aparente algum. Após isso, muitos armênios em suas cidades foram sumariamente assassinados ou forçadamente deportados sem motivo algum, o que totalizou quase 600 mil pessoas mortas. As frentes de batalha entre o império russo e o otomano na primeira guerra mundial eram regiões armênias, e os turcos acusavam os armênios de ajudarem os russos. Assim, com o pretexto de ajudar a população civil e atrapalhar essa ofensiva, os turcos defendem hoje em dia que organizavam caravanas e tiravam a população armênia para outras regiões do império, principalmente para a região de Alepo no norte da Síria. Essas deportações ocorreram de fato, graças a leis que as formalizaram, porém muitos dos armênios nessas caravanas morriam pelo caminho devido às más condições em que eram impostos, pois tinham que atravessar uma região de deserto, e muitas vezes os soldados não forneciam água nem comida, os obrigando a uma jornada de caminhada muito exaustiva. Porém, os que chegavam na Síria eram instalados em campos como prisioneiros e recebiam péssimas condições de abrigo e alimentação, ou então eram mortos na própria cidade. Dentre os mortos pelo caminho e os que chegavam nas cidades, foram totalizados 500 mil pessoas mortas. Assim, temos um massacre generalizado que pareceu ser planejado, o que reforça ainda um aproveitamento da entrada na guerra pelos turcos para reforçar as idéias panturanistas.
A idéia do genocídio ser baseado graças aos ideais panturanistas, ou panturquistas, toma mais força com a saída da Rússia na guerra em novembro de 1917 devido ao fato de ocorrer uma revolução nesse país, que se opunha aos ideais capitalistas que giravam em torno da guerra. Com a retirada das tropas russas no Cáucaso, a Armênia Oriental ficou então à mercê das tropas turcas. Assim, os turcos tomaram as regiões de Kars, Igdir, Kaghzivan e Ardahan visando criar uma conexão com o Azerbaijão, passando por toda a Armênia Oriental. Esses avanços territoriais tiveram um resultado de 400 mil mortos armênios, considerados pelos turcos como “crimes normais em uma guerra”, contra o exército armênio que estava organizado pelos partidos. Os turcos dizem que o número de mortos foi bem menor, porém como explicar que na região os armênios foram quase que dizimados, e hoje não há muitos dessa etnia vivendo naqueles territórios? Os rumos dos armênios começaram a mudar, pois os turcos estavam começando a perder o poder com as regiões árabes do império, que, ajudados pelos ingleses e franceses estavam se rebelando contra os otomanos, fazendo com que esses deslocassem uma boa parte do exército para regiões como Síria, Iraque e Líbano. Assim, em 28 de maio de 1918; organizados pelo partido Tashnag (criado em 1890 no lado oriental) conseguiram travar os turcos e impedir o avanço para outras áreas armênias graças a uma gloriosa vitória na batalha de Sartarabad colocando um fim nos interesses panturanistas e constituindo assim a primeira República da Armênia. Uma das maiores agonias dos armênios de hoje em dia é o fato de que, mesmo com a vitória gloriosa de Sartarabad, o território do monte Ararat ficou nas mãos dos turcos, e é possível o ver em algumas cidades da Armênia atual. Esse monte é um símbolo para todos os armênios, pois é em sua parte mais alta que, segundo a Bíblia, a arca de Noé pousou, e este ficava em território armênio. Como o povo é cristão ortodoxo, o que é escrito na Bíblia acaba sendo sagrado e ter uma das partes desse livro ocorrida em um local armênio acaba sendo um orgulho.
Ocorre que a primeira República Democrática da Armênia era muito fragilizada em termos militares e econômicos, e estava entre a Rússia e a Turquia. Com a guerra, o império Otomano se fragmentou perdendo seus domínios de região árabe, ficando assim o território da Turquia atual. Fragilizado e não se contentando com a perda de territórios com a guerra, se iniciou em 1919 um movimento muito nacionalista chefiado por Mustafá Kemal Pasha, conhecido como “pai dos turcos” por, posteriormente ter criado a República da Turquia. Ocorre que, a Armênia teria seu território e sua república garantidas com o tratado de Sèvres, que obrigava os turcos a reconhecer a perda de territórios. É então que começa a ascender no poder por meio de uma Assembléia no parlamento ("Grande Assembléia Nacional", em abril de 1920) o líder nacionalista Kemal, que não se contenta com a perda de territórios, e declarou guerra contra a Armênia, Grécia e França, o último visando os territórios árabes perdidos na Grande Guerra. Contra a Armênia, os turcos se viam vitoriosos e conseguiram firmar seu domínio em alguns territórios da Armênia Ocidental com o Tratado de Alexandropol, que anulava o de Sèvres.
É então que, desesperados e sofrendo com um genocídio recente, os armênios se aliam aos comunistas, que com o Exército Vermelho impediam um avanço turco no Cáucaso. A República Democrática da Armênia era extinta em 2 de dezembro de 1920, porém a anexação no gigante comunista ainda está por vir.
Fontes:
Sapsezian, Aharon; Historia da Armênia, drama e esperança de uma nação. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro RJ, 1988
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976A.
Bournoutian, George; Historia sucinta del pueblo armênio; editora Artes Gráficas Buschi S.A, Buenos Aires Bs As, 2006
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001
Revista "Leituras da história - especial Grandes Genocídios, ed. escala
Depoimentos orais de Stephan Hrair Chahinian
- Posted by Aram Minas Mardirossian
A Turquia atual não reconhece as matanças feitas entre 1915-1923 como genocídio, alega que apenas foram cometidos crimes comuns de guerra. Essa opnião é contraposta com a opnião de países de várias partes do mundo que reconhecem o genocídio, tais como: França, EUA, Itália, Grécia, Rússia, Bélgica, Grã-Bretanha, Suécia, Brasil, Argentina, Uruguai, Líbano, Suíça, entre outros. Essa decisão turca faz com que eles percam privilégios e se privem de entrar na União Européia, pois foi imposto aos turcos reconhecer o genocídio se quisessem fazer parte da U.E.
Após os massacres ocorridos na Armênia Ocidental, tudo o que restou neste território foram vestígios de uma cultura apagada e esquecida com a ocupação de turcos e curdos. Graças a guerra travada logo após a Grande Guerra, os armênios acabaram perdendo o maior símbolo nacional e de religiosidade, o território do Monte Ararat; várias igrejas importantes se encontram hoje em ruínas e ainda há símbolos claros de uma limpeza étnica que mudou totalmente os habitantes da região. Porém, em relação ao lado da Armênia Oriental a história é muito diferente. Após anos e anos sob a anexação como República Soviética juntamente com a URSS, é então que em 1991 a União Soviética se desmembra e é formada a República da Armênia, com as características dos dias atuais.
Hoje em dia, o território armênio possui uma área de 29.800 km² com uma população de 3.016.000 habitantes e situada nas cadeias montanhosas do Cáucaso. Como a região não foi afetada pelos turcos na guerra e nos morticínios, a maioria dos que vivem ali são descendentes dos mais antigos habitantes do território e portanto formam um povo extremamente nacionalista. Um dos exemplos que mais explicitam o sentimento de nação do povo armênio é a Guerra de Nagorno-karabagh, território armênio que foi cedido pelos soviéticos para o Azerbaijão e reivindicado com o fim da URSS. Porém isso envolve vários fatores por trás: - os azeris possuem a mesma descendência do que os turcos, logo tinham também uma rixa com os armênios pois acreditavam na idéia do panturquismo. – os azeris sempre possuíam também um ódio religioso aos armênios por serem muçulmanos e cercados de um povo cristão ortodoxo. – os turcos sempre incentivaram e ajudavam os azeris em qualquer ato que era contra os armênios. Assim, não querendo ceder o território, em 1991 estoura uma guerra entre os dois países, na qual os armênios conseguiram retomar suas terras no Azerbaijão e vencer as forças azeris com uma condição muito adversa. A guerrilha Fedayiner do território do Karabagh, aliada ao exército da Armênia (com um contingente de 20.000 homens) derrotou o exército azeri que tinha o apoio da Turquia (com um contingente de 42.000 homens). Com isso, vários dos que lutaram viraram mártires e símbolos da nação armênia.
É importante lembrar também que com o genocídio muitos armênios sobreviventes conseguiram se refugiar em várias partes do mundo. Buscando primeiramente países com saída para o mar, os sobreviventes iam ficando, primeiramente em países com Líbano, Síria, Palestina e Egito. Mais acostumados e com o choque do genocídio passado, esses sobreviventes imigraram para diversas regiões do mundo tais como Argentina, EUA, Rússia, Irã, França e os próprios países árabes (estes com estimativa de uma colônia de mais de 100.000 armênios); Brasil, Canadá, Austrália, Grécia, Uruguai, Cazaquistão, Inglaterra, Alemanha e Itália (estes com estimativa entre 10.000 e 100.000 armênios); entre outros países. Calcula-se que haja em torno de 3.400.000 armênios morando fora de sua região de origem, ou então que façam parte dos descendentes. Assim, podemos ver claramente a existência de uma diáspora pós “grande massacre”, o que reforça a característica de um genocídio.
Atualmente há um impasse econômico e político entre Armênia e Turquia, que se desenvolveu por causa do genocídio. A Armênia tem como um grande aliado na região a Rússia por causa da mesma religião e de interesses iguais. Já a Turquia fecha as suas fronteiras para a Armênia, não deixando assim que fluxo de mercadorias e pessoas entrem pelo lado oeste do país, e consequentemente também pelo lado leste já que a Armênia faz fronteira com o Azerbaijão, pais aliado da Turquia. Assim, os maiores acordos comerciais acabam vindo pelo norte, com a Rússia, que fornece grande parte do gás, tecnologia e produtos complementares para a Armênia.
Dentro da Turquia atualmente existem leis que visam a restrição do assunto do genocídio armênio. Se um turco dentro de seu país afirmar que o genocídio ocorreu de fato e fizer isso em algum meio expansivo de comunicação, este cidadão pode ser preso e condenado por anos de prisão. Isso mesmo, a Turquia pune quem cita sobre o genocídio como se a liberdade de expressão fosse um crime. Outro fato que exprime a Turquia ao ridículo em relação ao tema abordado nesse projeto de pesquisa é a omissão de documentos importantes que podem confirmar o genocídio. Para se ter uma idéia, o governo do país investe e abre seu acervo para estudiosos que queiram pesquisar sobre o império Otomano. Porém, o auxílio financeiro de 1 milhão de dólares e o acesso aos documentos dos antigos otomanos só são possíveis se o pesquisador não citar em seu trabalho final nada que se refira ao genocídio armênio.
Por fim a negação do genocídio é algo praticamente impossível de ser provado. Para que analisemos um fato, devemos levar em conta os fatores que o antecederam, o modo em que foi feito e as conseqüências que isso gerou. No caso, os antecedentes do genocídio foram muito bem explicados nesse projeto de pesquisa, assim como o modo que foram feitas as matanças, o que se encaixa em um quadro genocídio proposital pelo fator panturquismo. Além disso, as conseqüências são as maiores provas, pois as da época ou foram destruídas ou estão guardadas pelo próprio governo turco, logo as conseqüências são sinal de que algo mudou do seu curso natural, sendo assim provas. Porém como estou tratando de um projeto de pesquisa, vamos para os argumentos turcos para ver quais são as argumentações dos dois lados.
Fontes:
http://www.armenia.brasil.nom.br/genocidio.htm
http://www.ian.cc/
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001
Após os massacres ocorridos na Armênia Ocidental, tudo o que restou neste território foram vestígios de uma cultura apagada e esquecida com a ocupação de turcos e curdos. Graças a guerra travada logo após a Grande Guerra, os armênios acabaram perdendo o maior símbolo nacional e de religiosidade, o território do Monte Ararat; várias igrejas importantes se encontram hoje em ruínas e ainda há símbolos claros de uma limpeza étnica que mudou totalmente os habitantes da região. Porém, em relação ao lado da Armênia Oriental a história é muito diferente. Após anos e anos sob a anexação como República Soviética juntamente com a URSS, é então que em 1991 a União Soviética se desmembra e é formada a República da Armênia, com as características dos dias atuais.
Hoje em dia, o território armênio possui uma área de 29.800 km² com uma população de 3.016.000 habitantes e situada nas cadeias montanhosas do Cáucaso. Como a região não foi afetada pelos turcos na guerra e nos morticínios, a maioria dos que vivem ali são descendentes dos mais antigos habitantes do território e portanto formam um povo extremamente nacionalista. Um dos exemplos que mais explicitam o sentimento de nação do povo armênio é a Guerra de Nagorno-karabagh, território armênio que foi cedido pelos soviéticos para o Azerbaijão e reivindicado com o fim da URSS. Porém isso envolve vários fatores por trás: - os azeris possuem a mesma descendência do que os turcos, logo tinham também uma rixa com os armênios pois acreditavam na idéia do panturquismo. – os azeris sempre possuíam também um ódio religioso aos armênios por serem muçulmanos e cercados de um povo cristão ortodoxo. – os turcos sempre incentivaram e ajudavam os azeris em qualquer ato que era contra os armênios. Assim, não querendo ceder o território, em 1991 estoura uma guerra entre os dois países, na qual os armênios conseguiram retomar suas terras no Azerbaijão e vencer as forças azeris com uma condição muito adversa. A guerrilha Fedayiner do território do Karabagh, aliada ao exército da Armênia (com um contingente de 20.000 homens) derrotou o exército azeri que tinha o apoio da Turquia (com um contingente de 42.000 homens). Com isso, vários dos que lutaram viraram mártires e símbolos da nação armênia.
É importante lembrar também que com o genocídio muitos armênios sobreviventes conseguiram se refugiar em várias partes do mundo. Buscando primeiramente países com saída para o mar, os sobreviventes iam ficando, primeiramente em países com Líbano, Síria, Palestina e Egito. Mais acostumados e com o choque do genocídio passado, esses sobreviventes imigraram para diversas regiões do mundo tais como Argentina, EUA, Rússia, Irã, França e os próprios países árabes (estes com estimativa de uma colônia de mais de 100.000 armênios); Brasil, Canadá, Austrália, Grécia, Uruguai, Cazaquistão, Inglaterra, Alemanha e Itália (estes com estimativa entre 10.000 e 100.000 armênios); entre outros países. Calcula-se que haja em torno de 3.400.000 armênios morando fora de sua região de origem, ou então que façam parte dos descendentes. Assim, podemos ver claramente a existência de uma diáspora pós “grande massacre”, o que reforça a característica de um genocídio.
Atualmente há um impasse econômico e político entre Armênia e Turquia, que se desenvolveu por causa do genocídio. A Armênia tem como um grande aliado na região a Rússia por causa da mesma religião e de interesses iguais. Já a Turquia fecha as suas fronteiras para a Armênia, não deixando assim que fluxo de mercadorias e pessoas entrem pelo lado oeste do país, e consequentemente também pelo lado leste já que a Armênia faz fronteira com o Azerbaijão, pais aliado da Turquia. Assim, os maiores acordos comerciais acabam vindo pelo norte, com a Rússia, que fornece grande parte do gás, tecnologia e produtos complementares para a Armênia.
Dentro da Turquia atualmente existem leis que visam a restrição do assunto do genocídio armênio. Se um turco dentro de seu país afirmar que o genocídio ocorreu de fato e fizer isso em algum meio expansivo de comunicação, este cidadão pode ser preso e condenado por anos de prisão. Isso mesmo, a Turquia pune quem cita sobre o genocídio como se a liberdade de expressão fosse um crime. Outro fato que exprime a Turquia ao ridículo em relação ao tema abordado nesse projeto de pesquisa é a omissão de documentos importantes que podem confirmar o genocídio. Para se ter uma idéia, o governo do país investe e abre seu acervo para estudiosos que queiram pesquisar sobre o império Otomano. Porém, o auxílio financeiro de 1 milhão de dólares e o acesso aos documentos dos antigos otomanos só são possíveis se o pesquisador não citar em seu trabalho final nada que se refira ao genocídio armênio.
Por fim a negação do genocídio é algo praticamente impossível de ser provado. Para que analisemos um fato, devemos levar em conta os fatores que o antecederam, o modo em que foi feito e as conseqüências que isso gerou. No caso, os antecedentes do genocídio foram muito bem explicados nesse projeto de pesquisa, assim como o modo que foram feitas as matanças, o que se encaixa em um quadro genocídio proposital pelo fator panturquismo. Além disso, as conseqüências são as maiores provas, pois as da época ou foram destruídas ou estão guardadas pelo próprio governo turco, logo as conseqüências são sinal de que algo mudou do seu curso natural, sendo assim provas. Porém como estou tratando de um projeto de pesquisa, vamos para os argumentos turcos para ver quais são as argumentações dos dois lados.
Fontes:
http://www.armenia.brasil.nom.br/genocidio.htm
http://www.ian.cc/
Artzruni, Ashot; Historia do povo armênio. Editora Brusco, São Paulo SP, 1976
Livreto sobre o genocídio: Mutafian, Claude El genocídio de los armênios. Akian Gráfica Editora S.A, Buenos Aires Bs As, 2001
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Os argumentos turcos – o que é verdade e o que é interpretado intencionalmente
Essa parte é talvez a mais interessante de todo o meu projeto de pesquisa. Para elabrorar esse texto, fui a procura de algum documento que explicitasse os argumentos turcos de negação ao genocídio armênio. Porém, me deparei com uma escassez absurda de argumentos e documentos desse tipo. Então, recorri a embaixada da Turquia no Brasil, buscando o ponto de vista dos turcos em relação ao assunto, e eis então que me mandaram em um segundo contato três documentos que traziam os argumentos e as provas dos turcos. O resultado disso está logo aqui embaixo, sendo quatro "provas" básicas e alguns argumentos periféricos:
- Segundo a Turquia, as baixas armênias não constituem um genocídio por 4 pontos básicos: 1 – entre os anos dos numerosos massacres armênios (1893-1923) este povo apresentou uma participação beligrante; 2 – há uma incoerência entre as acusações do genocídio, pois ao mesmo tempo em que os armênios falam com orgulho da luta contra os turcos, comparam sua tragédia com o holocausto dos judeus; 3 – Não há documentos que provem que os turcos otomanos sancionaram transferências de populações armênias ou a matança de civis; 4 – não havia o termo genocídio antes de 1944
Sob esses aspectos levantados pelos turcos, é necessário esclarecer algumas coisas. O argumento 1 apenas confirma de um modo geral que houve, se não um genocídio, uma grande matança aos armênios. Durante toda a anexação da Armênia pelo império Otomano, não houve nenhuma vez em que os armênios pegaram em armas para confrontar os turcos a não ser a partir de 1893. Ou seja, durante quase 9 séculos de dominação otomana na Armênia não houveram lutas entre esses dois povos, o que evidencia que algo estava dando errado, e portanto foi necessário que os armênios sofressem algum tipo de descontentação para começar a pegar em armas. Juntando essa idéia ao panturquismo, a ascensão do nacionalismo turco, a diferença religiosa e étnica, o fracasso otomano na Europa Oriental e as perdas da Primeira Guerra Mundial, tudo leva a crer que os armênios estavam sofrendo algum tipo de limpeza étnica ou matança. Se um povo necessita se levantar contra um império, o que não ocorreu durante 9 séculos, evidencia que esse está descontente ou sofrendo algum tipo de represália, logo o argumento utilizado acaba aumentando a hipótese de que houve um grande morticínio.
Conheço vários armênios, e a grande maioria possui um grande orgulho das lutas contra os turcos, de fato. Não podemos nos esquecer que durante os últimos anos de dominação otomana, os armênios sofreram várias humilhações e tentou se abafar sua cultura, com a destruição de igrejas, proibição de falar a língua armênia, matança de vários intelectuais na Primeira Guerra. Isso acaba gerando um certo ódio aos turcos, e esse ódio também pode se aliar ao fato de o povo armênio ter sofrido vários morticínios. Com condições totalmente adversas e com ajudas escassas, os armênios garantiram algumas vitórias frente aos turcos, o que acaba sendo muito glorificante, tal como a batalha de Sartarabad. Mas, se há mesmo esse ódio, houve algo que o levantou, e não há nada mais justificante à isso do que ver o seu povo massacrado.
Se diz que os armênios comparam seu genocídio com o Holocausto dos judeus. Os dois são fatos muito semelhantes se analisados corretamente: tanto turcos quanto alemães viam armênios/judeus como inimigos nacionais, sendo no primeiro caso como um impedimento físico quanto à sua expansão, e o segundo como um ódio racial, levantado por um governante para unir todo o povo alemão frente à um inimigo comum. Tanto os armênios como os judeus tiveram uma diáspora pelo mundo inteiro após os seus morticínios, ou seja, tiveram que migrar para outros lugares por melhores condições ou por serem expulsos de suas terras. Judeus e armênios possuíram suas culturas abafadas ou ridicularizadas nos tempos de guerra. O próprio Hitler justificava a grande matança aos judeus pela sua famosa frase: “Afinal, quem ainda se lembra dos armênios?”, o que nos leva a crer que ninguém na época se lembrava de que o povo armênio sofrera uma grande matança, e então era justificável a exterminação dos judeus. Assim, não podemos isolar o genocídio armênio do Holocausto judeu.
Os turcos põem em prova a veracidade do genocídio por não haver documentos que comprovem ações turcas de deslocamento populacional ou de ordem para matança contra os armênios. Levando em conta que isso era um assunto interno do império, seria muito difícil achar esses documentos já que não é de interesse turco os publicar. Para se ter uma noção, o governo turco financia e dá direito aos documentos otomanos as universidades interessadas em estudar o império, desde que não seja citado o genocídio armênio. Além disso, hoje em dia é crime federal na Turquia reconhecer ou pesquisar sobre o genocídio armênio. Assim fica quase impossível achar ou se publicar algum documento que comprove o genocídio armênio.
O fato de haver ou não o termo “genocídio” antes do ano de 1944 não anula o fato que houve uma grande matança aos armênios, logo é um argumento fraco e que não prova o contrário das represálias turcas. Segundo o documento “Alegações armênicas – a questão e os fatos (Assembléia das Associações Turco-Americanas)” entregue para mim pela embaixada da Turquia no Brasil, é dito que “os armênios sofreram, sim, uma mortalidade terrível”, porém que o número de muçulmanos mortos fora ainda maior (2,5 milhões de mortos). Levando em conta que os otomanos possuíam, para a Primeira Guerra Mundial, um arsenal bélico ultrapassado e pouco potente, é de gigante probabilidade que várias dessas mortes foram causadas graças às batalhas com seus inimigos na Grande Guerra, não possuindo grandes relações de serem causadas pelos armênios. A única possível é a de que os armênios integravam o exército russo, o que era verdade, porém com um contingente de apenas 50.000 soldados. Levando em conta que o exército russo também não era desenvolvido para a época, e que os russos saíram da guerra graças a Revolução Socialista em 1917, seria impossível que os armênios massacrassem os turcos de tal forma. Ridiculamente, os muçulmanos citados são sim, muçulmanos, porém não turcos. A grande maioria de mortes se deve aos árabes, de regiões como Síria, Líbano, Palestina, Jordânia, todas anexadas ao império Otomano, e que integravam o exército otomano muitas vezes como linhas de frente.
A Turquia pronuncia também o argumento que os supostos responsáveis pelo genocídio foram absolvidos, mas mesmo assim houve uma “guerra terrorista”, que teve com conseqüência a morte de Talaat Pashá, Djemal Pashá e que esta se estende até os dias atuais. Usando o mesmo método turco de negação, pode-se negar a morte de Taalat Pashá por um “grupo terrorista armênio”, pois os acusados (Vahan Zachariantz e Georg Kalusdian) foram absolvidos no tribunal de Lehmberg, e qualquer suposta rede terrorista armênia foi desmentida. O julgamento inteiro é descrito no livro “Um genocídio em julgamento – O processo de Talaat Pashá na República de Weimar” da editora Paz e Terra.
- Segundo a Turquia, as baixas armênias não constituem um genocídio por 4 pontos básicos: 1 – entre os anos dos numerosos massacres armênios (1893-1923) este povo apresentou uma participação beligrante; 2 – há uma incoerência entre as acusações do genocídio, pois ao mesmo tempo em que os armênios falam com orgulho da luta contra os turcos, comparam sua tragédia com o holocausto dos judeus; 3 – Não há documentos que provem que os turcos otomanos sancionaram transferências de populações armênias ou a matança de civis; 4 – não havia o termo genocídio antes de 1944
Sob esses aspectos levantados pelos turcos, é necessário esclarecer algumas coisas. O argumento 1 apenas confirma de um modo geral que houve, se não um genocídio, uma grande matança aos armênios. Durante toda a anexação da Armênia pelo império Otomano, não houve nenhuma vez em que os armênios pegaram em armas para confrontar os turcos a não ser a partir de 1893. Ou seja, durante quase 9 séculos de dominação otomana na Armênia não houveram lutas entre esses dois povos, o que evidencia que algo estava dando errado, e portanto foi necessário que os armênios sofressem algum tipo de descontentação para começar a pegar em armas. Juntando essa idéia ao panturquismo, a ascensão do nacionalismo turco, a diferença religiosa e étnica, o fracasso otomano na Europa Oriental e as perdas da Primeira Guerra Mundial, tudo leva a crer que os armênios estavam sofrendo algum tipo de limpeza étnica ou matança. Se um povo necessita se levantar contra um império, o que não ocorreu durante 9 séculos, evidencia que esse está descontente ou sofrendo algum tipo de represália, logo o argumento utilizado acaba aumentando a hipótese de que houve um grande morticínio.
Conheço vários armênios, e a grande maioria possui um grande orgulho das lutas contra os turcos, de fato. Não podemos nos esquecer que durante os últimos anos de dominação otomana, os armênios sofreram várias humilhações e tentou se abafar sua cultura, com a destruição de igrejas, proibição de falar a língua armênia, matança de vários intelectuais na Primeira Guerra. Isso acaba gerando um certo ódio aos turcos, e esse ódio também pode se aliar ao fato de o povo armênio ter sofrido vários morticínios. Com condições totalmente adversas e com ajudas escassas, os armênios garantiram algumas vitórias frente aos turcos, o que acaba sendo muito glorificante, tal como a batalha de Sartarabad. Mas, se há mesmo esse ódio, houve algo que o levantou, e não há nada mais justificante à isso do que ver o seu povo massacrado.
Se diz que os armênios comparam seu genocídio com o Holocausto dos judeus. Os dois são fatos muito semelhantes se analisados corretamente: tanto turcos quanto alemães viam armênios/judeus como inimigos nacionais, sendo no primeiro caso como um impedimento físico quanto à sua expansão, e o segundo como um ódio racial, levantado por um governante para unir todo o povo alemão frente à um inimigo comum. Tanto os armênios como os judeus tiveram uma diáspora pelo mundo inteiro após os seus morticínios, ou seja, tiveram que migrar para outros lugares por melhores condições ou por serem expulsos de suas terras. Judeus e armênios possuíram suas culturas abafadas ou ridicularizadas nos tempos de guerra. O próprio Hitler justificava a grande matança aos judeus pela sua famosa frase: “Afinal, quem ainda se lembra dos armênios?”, o que nos leva a crer que ninguém na época se lembrava de que o povo armênio sofrera uma grande matança, e então era justificável a exterminação dos judeus. Assim, não podemos isolar o genocídio armênio do Holocausto judeu.
Os turcos põem em prova a veracidade do genocídio por não haver documentos que comprovem ações turcas de deslocamento populacional ou de ordem para matança contra os armênios. Levando em conta que isso era um assunto interno do império, seria muito difícil achar esses documentos já que não é de interesse turco os publicar. Para se ter uma noção, o governo turco financia e dá direito aos documentos otomanos as universidades interessadas em estudar o império, desde que não seja citado o genocídio armênio. Além disso, hoje em dia é crime federal na Turquia reconhecer ou pesquisar sobre o genocídio armênio. Assim fica quase impossível achar ou se publicar algum documento que comprove o genocídio armênio.
O fato de haver ou não o termo “genocídio” antes do ano de 1944 não anula o fato que houve uma grande matança aos armênios, logo é um argumento fraco e que não prova o contrário das represálias turcas. Segundo o documento “Alegações armênicas – a questão e os fatos (Assembléia das Associações Turco-Americanas)” entregue para mim pela embaixada da Turquia no Brasil, é dito que “os armênios sofreram, sim, uma mortalidade terrível”, porém que o número de muçulmanos mortos fora ainda maior (2,5 milhões de mortos). Levando em conta que os otomanos possuíam, para a Primeira Guerra Mundial, um arsenal bélico ultrapassado e pouco potente, é de gigante probabilidade que várias dessas mortes foram causadas graças às batalhas com seus inimigos na Grande Guerra, não possuindo grandes relações de serem causadas pelos armênios. A única possível é a de que os armênios integravam o exército russo, o que era verdade, porém com um contingente de apenas 50.000 soldados. Levando em conta que o exército russo também não era desenvolvido para a época, e que os russos saíram da guerra graças a Revolução Socialista em 1917, seria impossível que os armênios massacrassem os turcos de tal forma. Ridiculamente, os muçulmanos citados são sim, muçulmanos, porém não turcos. A grande maioria de mortes se deve aos árabes, de regiões como Síria, Líbano, Palestina, Jordânia, todas anexadas ao império Otomano, e que integravam o exército otomano muitas vezes como linhas de frente.
A Turquia pronuncia também o argumento que os supostos responsáveis pelo genocídio foram absolvidos, mas mesmo assim houve uma “guerra terrorista”, que teve com conseqüência a morte de Talaat Pashá, Djemal Pashá e que esta se estende até os dias atuais. Usando o mesmo método turco de negação, pode-se negar a morte de Taalat Pashá por um “grupo terrorista armênio”, pois os acusados (Vahan Zachariantz e Georg Kalusdian) foram absolvidos no tribunal de Lehmberg, e qualquer suposta rede terrorista armênia foi desmentida. O julgamento inteiro é descrito no livro “Um genocídio em julgamento – O processo de Talaat Pashá na República de Weimar” da editora Paz e Terra.